Esse é apenas um desabafo. Uma questão de respeito. Um pedido de atenção a todos para o verdadeira razão de estarmos comemorando mais um título mundial. E que essa alegria toda se transforme em consciência de que a união consegue, sim, fazer a força e mudar o que estiver errado.
Uma seleção desacreditada, que só no último momento confirmou sua vaga para a Copa. Vínhamos de mudança de técnicos. Tínhamos como técnico o Wanderley, aquele que ficava na beira do campo vestindo o seu Armani e com as mãos no bolso. O mesmo que se envolveu em um escândalo de, não me lembro ao certo, caixa 2, imposto de renda...ninguém se lembra.
Com o apoio popular chamaram o "guasca" do Rio Grande. A imprensa carioca e paulista caiu em cima. De repente por que ele era um "gaudério" rude que não fazia o perfil do moço do Armani.
O 'tchê" havia treinado o Grêmio, de Porto Alegre-RS (tchê), e lhes trouxe grandes conquistas. Chamaram, então, o gaúcho para São Paulo para botar ordem no Palmeira, mêu! E ele o fez como ninguém.
Pois então...agora o gaúcho estava na Copa. Japão e Koréia eram o pano de fundo.
O time lá, desacreditado ainda e com, até então, ex-craques que não apareciam no jogo.
Passamos de um, passamos de outro, enquanto as grandes potências voltavam para casa.
Ninguém levava a sério a Seleção até ela acompanhar a Inglaterra até a alfândega. Ali os brasileiros viram que era possível se assanhar. Que era possível pensar mais alto, que era possível desentalar o osso de galinha francesa atolado na garganta.
E viemos, e vieram os turcos novamente. E mandamos eles pro vestiário outra vez.
Agora só restava uma, a Alemanha. A possuidora do melhor goleiro do mundo: "O Muro de Berlim, Oliver Kahn".
Tudo ou nada. Ganhar o primeiro lugar ganhando, ou ganhar o segundo perdendo.
Recorde de espectadores no mundo. Todos os cantos torcendo, e a maioria, a grande e fabulosa maioria, torcendo para nós.
O "Guasca" lá. No banco de reservas. Vestindo um abrigo, ao invés de um Armani. Berrando, gesticulando, brigando.
Um a zero. O "Muro" não segura o tiro do Rivaldo e o Ronaldo marca. Parece que vai dar. Por que tenho a impressão de que o Brasil só joga bem contra grandes seleções? Um baile.
A zaga, pela primeira vez, estava impecável. Até o Marcus estava acertando os tiro de meta!
Abre as pernas, Pernambucano, deixa passar, Rivaldo.
Ronaldo...põe no canto. Dois a zero com bola na trave e tudo.
Acabou. Minha garganta ainda dói. E a cabeça do brasileiro ainda lateja o choro. O choro contido desde 1998, o choro contido desde 1500. A lágrima vem como um gol. Vai driblando as marcas do rosto e, sem nenhum obstáculo a mais, cai livremente no chão de areia, ficando marcado o pingo, o gol, a história, a esperança.
Fizemos isso com o futebol? Façamos então com a economia, com a miséria, com a violência.
Necessitamos de Felipões espalhados pelos Ministérios, pelos Tribunais...
Mas temos que saber que somos todos Felipes...somos todos capazes. Somos todos filhos da mesma Pátria Mãe que amamos tanto. Somos BRASILEIROS.